domingo, 2 de novembro de 2008

Pássaro rebelde

É certo, l’amour est un oiseau rebelle, eu entendo mas, por mais rebelde que seja essa pôrra desse pássaro, isso não se justifica. Ele a emprenhou quinze, quinze não, dezesseis vezes. Dezesseis sim, tem sentido isso? Você só sabe de quatorze porque dois morreram, já nem sei como. Quatorze! Sete? Sete filhos tanta gente tem, não é mesmo? Quatorze, sete homens, sete mulheres! Parece conta feita. Então era assim, o bonitão desaparecia por uns tempos, vinha e bimba, um filho, sumia por mais um tempo, voltava e a mãe lá firme, com o barrigão firme. Lá vinha mais um para viver a pobreza escolhida pela minha mãe. Foi por conta desse amor aí, este oiseau rebelle?Ah, o cacete! O bonitão é meu pai, claro.

Um dia, quando eu era moleque, a professora mandou a gente ler um tal de Éramos seis e veio perguntar, justo pra mim “Eduardo, o que foi que você achou do livro?” “Não achei nada, professora.” Respondi. “Como assim, nada? Você leu o livro?” “Eu li, professora, mas não vi graça na choradeira porque, se a senhora quiser saber mesmo, lá em casa somos Quatorze.” Pra bom entendedor um pingo é letra, a professora não me encheu mais o saco, viu que precisa mais do que seis pra me impressionar….mas bom, felizmente isso já vai longe. Sobrevivi, agora, passeando meus olhos pelas estantes da biblioteca vejo o tal livro e aqueles dias são revividos. Foi isso o que aconteceu, com Proust era a Madeleine.